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Homem de jaleco branco, em um laboratório, segura um tubo de ensaio de vidro na vertical. O tubo contém um líquido amarelo claro e transparente, e o homem o observa com atenção. Ao fundo, desfocado, percebe-se equipamentos e outros recipientes de um ambiente de pesquisa científica. Fim da descrição.
Startup fundada por ex-alunos da Unicamp e atualmente hospedada no Parque Científico e Tecnológico da Universidade recebeu recursos da FAPESP e conquistou investimento-anjo de um grupo empresarial do setor sucroenergético

 

Texto: Christian Marra - Inova Unicamp | Fotos: Pedro Amatuzzi - Inova Unicamp

 

Os processos biotecnológicos industriais, ou bioprocessos, são operações que utilizam organismos vivos, como bactérias, fungos, células vegetais ou animais ou enzimas, para produzir ou modificar substâncias com alguma finalidade comercial. Sua aplicação na indústria é de grande utilidade, motivada por dois fortes atrativos: bioprocessos podem tornar mais eficientes os métodos e procedimentos industriais, que podem ser substituídos por processos mais sustentáveis para o meio ambiente, pois eles dispensam o uso de componentes químicos agressivos.

Interior de um laboratório com três pessoas vestindo jalecos brancos. À esquerda, um homem em pé examina um pequeno objeto, possivelmente um tubo de ensaio, próximo a uma autoclave branca. Ao centro, uma pessoa está sentada de costas, trabalhando em uma capela de fluxo laminar, e ao lado há um refrigerador vertical com porta de vidro, cheio de recipientes. À direita, mais ao fundo, outra pessoa organiza materiais em prateleiras. O ambiente é bem iluminado e repleto de equipamentos e suprimentos de laboratório. Fim da descrição.
Equipe da startup conta atualmente com sete funcionários

Por essas razões, os processos biotecnológicos têm sido cada vez mais desejados em diversos segmentos industriais. De olho nessa demanda, três ex-alunos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) fundaram, em 2018, uma startup focada no aprimoramento de processos industriais com base em biotecnologia. Trata-se da Bioprocess Improvement, uma empresa-filha graduada na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp) e que está instalada no Parque Científico e Tecnológico da Universidade, ambiente de inovação gerenciado pela Agência de Inovação Inova Unicamp.

Um dos sócios-fundadores da startup é o biólogo Marcelo Ventura Rubio, que cursou graduação, doutorado e o estágio de pós-doutorado no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. Ele comenta que a empresa tem desenvolvido tecnologias voltadas, sobretudo, ao setor sucroenergético, cadeia que engloba atividades relacionadas à produção e ao processamento da cana-de-açúcar para obtenção de açúcar, etanol e bioeletricidade.

 

Projetos da Bioprocess Improvement envolvem coqueteis de bacteriófagos, sensores virtuais e biorrefinaria virtual

 

O biólogo empreendedor explica como a Bioprocess Improvement atua na otimização e no aumento da sustentabilidade ambiental de processos na indústria: “Usinas produtoras de etanol são nossas clientes, pois elas usam componentes químicos e antibióticos em seus métodos de processamento da cana-de-açúcar, produtos que elas desejam evitar por serem poluentes e agressivos ao ambiente. Nossa tecnologia é um sistema de controle biológico à base de bacteriófagos. Criamos uma solução biológica para atacar bactérias que contaminam esses processos industriais. Trata-se de uma solução que não só reduz os impactos ambientais como também aumenta a eficiência dos processos e reduz custos operacionais”, detalha o biólogo.

Imagem de um homem vestindo um jaleco branco e segurando, com a mão direita, um tubo de ensaio de vidro contendo um líquido amarelo claro, o qual o observa atentamente. Ao fundo, desfocado, há um refrigerador de laboratório com porta de vidro, contendo prateleiras com outros tubos e frascos. Fim da descrição.
Hoje, o principal setor de atuação da Bioprocess é o sucroenergético, com biotecnologias desenvolvidas para usinas de etanol

De forma complementar, a Bioprocess desenvolveu uma tecnologia de sensores virtuais, utilizada para monitorar o bioprocessamento na indústria. “Nosso sensor virtual substitui equipamentos caros de monitoramento. Com ele, conseguimos acompanhar processos em tempo real, aumentando a precisão e reduzindo custos. Ele é uma espécie de inteligência artificial de processos de fermentação: o sensor analisa variáveis simples e infere o comportamento do processo fermentativo. Hoje, as análises tradicionais levam horas para fornecer informações, enquanto nossa tecnologia permite decisões instantâneas”, comenta Rubio.

Uma das funções do sensor virtual é monitorar os níveis de contaminação bacteriana nos processos industriais. Rubio afirma que "normalmente, essa informação é obtida apenas dias depois. O sensor virtual permite avaliar essa variável e outras em tempo real. Assim, conseguimos alertar o operador quando há um nível elevado de contaminação, permitindo que ele tome decisões rápidas, como na dosagem de produtos para controle, por exemplo”, explica.

Outra tecnologia da Bioprocess aplicada de forma complementar é a biorrefinaria virtual, uma ferramenta que modela e simula processos, como Rubio acrescenta: “Uma vez que temos o sensor virtual atuando, começamos a trabalhar com modelagem e simulação de processos. No setor, falamos do conceito de digital twin (gêmeo digital). Como monitoramos o processo em tempo real, conseguimos modelar e simular virtualmente o que está acontecendo. Assim, simulamos o presente e fazemos previsões futuras baseadas no histórico, tanto em processos industriais quanto laboratoriais. A biorrefinaria virtual nos permite acelerar, retroceder e trabalhar no tempo zero, entendendo e otimizando os processos”, detalha o biólogo.

Ele também explica que as tecnologias da empresa podem ser aplicadas em diversos setores da indústria. “Além da etapa de fermentação em usinas, a Bioprocess também pode aplicar suas tecnologias em outras fases do processo, como na moenda e na destilaria. Mas o alcance dos bioprocessos vai além desse setor. Pensando em outros mercados, processos alimentícios estão entre os mais próximos da nossa tecnologia. Temos também potencial de aplicação em processos na indústria de pet food, saúde humana e animal, e até mesmo na indústria farmacêutica. Criamos uma plataforma que pode ser aplicada a diferentes segmentos, adaptando-se a cada necessidade”, afirma Rubio.

 

Financiamentos da FAPESP e de investidor-anjo favorecem expansão da Bioprocess

 

Desde o início de sua trajetória na Incamp e no Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, a Bioprocess Improvement vem contando com apoio da Inova Unicamp, cujo auxílio tem facilitado identificar caminhos para captar financiamentos e estruturar o negócio.

Rubio comenta que, desde 2018 – o primeiro ano da startup –, a empresa é aprovada em editais de fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP): “Tivemos três projetos aprovados com linhas diferentes: o controle biológico, o sensor virtual e outro de prototipagem industrial. O projeto de controle biológico chegou à Fase 3 do programa de fomento chamado Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). Além disso, aplicamos um projeto de sensor virtual para a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que está em andamento”, conta o empreendedor.

Homem de jaleco branco e luvas cinzas está em um laboratório, em frente a uma autoclave aberta. Ele segura com a mão direita um frasco de vidro contendo um líquido âmbar, e com a esquerda, um recipiente coberto com papel alumínio. Ao fundo, uma estante preta com caixas e suprimentos de laboratório. Fim da descrição.
Em 2024 a Bioprocess recebeu um investimento-anjo que incluiu suporte comercial e administrativo

Ele ainda afirma que o setor de biotecnologia exige um tempo mais prolongado para a maturação dos projetos, o que eleva os riscos do negócio. “Como projetos biológicos exigem tempo para mitigar os riscos, a contribuição da FAPESP no início foi fundamental. Isso nos ajudou a contratar especialistas, a consolidar nossa tecnologia e a estruturar o negócio nos primeiros anos”, explica Rubio.

A maturação da tecnologia e as capacitações da Incamp na modelagem de negócios da empresa possibilitaram que a startup se tornasse, com o tempo, mais atraente a investidores. Foi dessa forma que, em 2024, a empresa conquistou um importante aporte de um investidor-anjo. Rubio narra a trajetória para a obtenção desse investimento:

“Na época que entramos no PIPE FAPESP Fase 2, começamos a participar de eventos para estreitar laços com outras empresas. No primeiro ano, estivemos na Fenasucro, principal feira de bioenergia do país, com o apoio da Inova Unicamp. Lá apresentamos o nosso projeto e iniciamos uma relação com quem hoje é nosso investidor, o Grupo Drul, uma importante organização brasileira que atua no setor sucroenergético e agroindustrial. No ano seguinte, com o projeto mais avançado e dados concretos, aumentou nosso envolvimento com a direção da empresa. As conversas evoluíram até que, em 2024, formalizamos o investimento”, comenta o biólogo.

O empreendedor acrescenta que esse apoio não se limitou a recursos financeiros, abrangendo também suporte estratégico mais amplo: “O investimento-anjo nos trouxe também conhecimento e apoio nas áreas comercial, jurídica e contábil. Com isso, nós pudemos permanecer focados na tecnologia, no desenvolvimento e na inovação”, explica Rubio.

Ele também informa que, graças ao apoio desse investidor-anjo, a Bioprocess credenciou-se a pleitear um novo aporte da FAPESP por meio do PIPE Invest, uma modalidade de apoio a startups e pequenas e médias empresas financiadas pelo PIPE e que já contam com um investidor. “Contratualmente, precisamos manter sigilo sobre isso. Mas  podemos dizer que o impacto na empresa será positivo. Esse investimento nos permite pleitear o PIPE Invest da FAPESP, que faz um match de recursos quando já há um investidor aportando dinheiro”, comenta o empreendedor.

 

Startup nasceu e se desenvolveu em estreita relação com a Unicamp

 

Desde quando nasceu, como uma empresa incubada na Incamp, a Bioprocess Improvement tem uma trajetória com forte vínculo com a Unicamp. Desde quando se graduou na Incubadora, a startup se mantém hospedada no Parque Científico e Tecnológico  e no ecossistema empreendedor da Universidade, o que é, para Rubio, uma importante vantagem. A empresa foi premiada em 2024 na categoria de Inovação do Prêmio Empreendedor da Unicamp, por exemplo.

Estar no ecossistema da Unicamp traz muitas vantagens”, comenta o sócio-fundador. “Assim temos acesso a talentos qualificados e, quando preciso, contamos com a colaboração de professores e pesquisadores. Além disso, a proximidade com a Universidade nos fortalece comercialmente, pois os clientes enxergam a Unicamp como uma referência”, acrescenta Rubio, que também foi premiado em 2024 no Prêmio Inventores da Unicamp por uma tecnologia desenvolvida na Universidade e licenciada por outra empresa 

Ele finaliza destacando um aspecto relevante dessa proximidade: “Em startups, risco e valor são aspectos bastante interligados. Por isso, associar-se a um ecossistema relevante como o da Unicamp contribui para mitigar riscos e aumentar a percepção de valor da empresa por parte de investidores e parceiros”, conclui Rubio.

 

Sobre o Parque Científico e Tecnológico da Unicamp

 

O Parque Científico e Tecnológico da Unicamp e a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Incamp) são gerenciados pela Inova Unicamp e trabalham na promoção de ambientes que geram conexões que reverberam em novos negócios e parcerias. Saiba mais e confira as ações e resultados do Parque na biblioteca da Inova Unicamp.

 

Empresa-filha da Unicamp

 

A Bioprocess é uma empresa-filha da Unicamp. Podem fazer parte deste ecossistema os empreendimentos fundados por pessoas que têm ou tiveram vínculo com a Universidade, tais como alunos, egressos (ex-alunos), docentes, funcionários ou ex-funcionários, assim como startups que foram incubadas na Incamp ou criadas a partir de uma tecnologia desenvolvida na Universidade, as chamadas empresas spin-off. A Inova Unicamp está com o cadastro aberto para mapear novas empresas de seu ecossistema. O cadastro é gratuito, acesse e saiba como fazer da sua empresa uma filha da Unicamp.