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Objetivo é ampliar e diversificar as fontes de financiamento de deep techs apoiadas pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas

Texto: Elton Alisson - Pesquisa para Inovação |  Imagem: kiquebg - Pixabay

A FAPESP firmou parcerias com fundos de investimentos, plataformas de investimento participativo (equity crowdfunding) e redes de investidores-anjo. A iniciativa integra um conjunto de medidas voltadas a ampliar e a diversificar as fontes de financiamento das empresas de base tecnológica (deep techs) apoiadas pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).

“Há dois anos, o Conselho Superior da FAPESP decidiu aprovar uma diretriz que, além do que fazemos por meio do PIPE e outros instrumentos da instituição voltados a apoiar pequenas empresas inovativas, também abrisse a possibilidade de trabalhar com parceiros externos à Fundação no apoio do aporte de capital junto às empresas apoiadas pelos nossos programas”, disse Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP, durante o PIPE Day, evento on-line realizado nos dias 23 e 27 de maio com o intuito de apresentar as novas oportunidades de acesso a capital para representantes de empresas apoiadas pelo PIPE.

“É uma tentativa de dar um passo além do que já fazíamos para termos mais sucesso na transformação dessas empresas inovadoras, intensivas em tecnologia, para que possam ter maior êxito em suas jornadas”, afirmou.

A gravação das apresentações pode ser acessada na página do evento, onde também foram disponibilizados os arquivos de slides exibidos pelas parceiras.

Os novos parceiros da FAPESP que se apresentaram aos empreendedores no PIPE Day foram as gestoras dos fundos Criatec 4 e Indicator 2 IoT, as plataformas de equity crowdfunding EqSeed e Captable e as redes de investidores-anjo FEA Angels e Anjos do Brasil.

A adesão da FAPESP ao Criatec 4 e Indicator 2 IoT, ambos fundos patrocinados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com a participação de cotistas públicos e privados, ocorreu no ano passado. A Fundação aportará R$ 30 milhões em cada fundo por um período de quatro a cinco anos, sendo que montante equivalente deve ser investido em empresas egressas ou participantes do PIPE.

Gerido pela Crescera Capital e pela Triaxis Capital, o fundo Criatec 4 irá aportar recursos em 25 a 35 empresas, situadas em todo o território nacional, com soluções voltadas a cidades sustentáveis, inteligentes e tecnologias habitacionais; educação e empregabilidade; cadeia da saúde; sustentabilidade e tecnologias verdes; tecnologias financeiras; cidadania e gestão pública.

“O fundo está em período de investimento. Temos procurado investir em empresas que têm uma densidade de inovação tecnológica um pouco acima da média das apoiadas por outros fundos no Brasil. Nosso objetivo é repetir com maior grau de acerto aquilo que fizemos em um fundo anterior que gerimos, o Criatec 2, que é buscar empresas com grande potencial, com um diferencial competitivo no mercado e que possam ser líderes em seu segmento”, disse Reinaldo Coelho, sócio e diretor da Triaxis Capital.

Gestora do Indicator 2 IoT, a Indicator Capital conta com um time de profissionais experientes presente em São Paulo e no Vale do Silício, possui mais de R$ 370 milhões de ativos sob gestão e um histórico de 27 investimentos e quatro saídas. Em seus dez anos de existência, a gestora já analisou mais de mil startups atuantes no segmento de internet das coisas, disse Thomas Bittar, cofundador da empresa.

“O valor médio das rodadas de startups de IoT está em torno de R$ 8,5 milhões, que é o cheque que elas estão levantando, e estão pleiteando R$ 7,8 bilhões. Não quer dizer que já levantaram. A gente gostaria que levantassem até R$ 50 bilhões. Não estamos lá, mas vamos chegar”, estimou.

Plataformas de investimento participativo

Além dos fundos de investimento, as empresas egressas ou com projetos em andamento apoiados pelo PIPE-FAPESP poderão se habilitar a receber investimentos de plataformas de investimento participativo (equity crowdfunding), como a EqSeed e a Captable.

Com mais de R$ 90 milhões captados para 57 empresas, a EqSeed realiza rodadas de investimentos em startups por meio de ofertas públicas de valores mobiliários em um ambiente digital e regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

“Fazemos algo muito similar a um fundo tradicional em termos de estruturação e análise. A diferença é que depois desse processo lançamos a empresa na plataforma on-line para que vários investidores possam fazer aportes. Isso permite que as startups tenham maior agilidade e menor burocracia para captar investimentos”, disse Brian Begnoche, sócio-fundador da EqSeed.

De acordo com o executivo, a plataforma conta com uma base de mais de 75 mil investidores e já realizou seis exits (vendas) de startups investidas, que geraram um retorno de mais de 40% dos investimentos.

“Estamos olhando para empresas com excelentes fundadores, grandes mercados e que, caso não tenham modelos escaláveis, atuem em um nicho contundente que pode ser interessante para os investidores”, afirmou Begnoche.

Segundo ele, por meio da plataforma as startups conseguem captar até R$ 15 milhões muito rapidamente, em questão de meses. “Trabalhamos nas fases de seed (investimento-semente), early stage (estágio inicial) e venture capital (capital de risco). Nesse momento estamos focados em rodadas de R$ 600 mil até R$ 3 milhões.”

Já o foco da Captable é em rodadas de R$ 1 milhão a R$ 5 milhões, disse Marcos Magnus, head de análise da plataforma de investimento em startup que já superou a marca de R$ 100 milhões captados em 71 rodadas.

“Fizemos as captações mais rápidas no país e temos três exits realizadas”, disse Magnus.

O tempo médio de captação de recursos por meio da plataforma é de 45 dias. “Buscamos startups com potencial de escalabilidade, MVP [produto viável mínimo] e PMF [product market fit] validados, prontas para iniciar tração”, afirmou Magnus.

Investimento-anjo

Outra modalidade de investimento disponibilizada para startups apoiadas pelo PIPE são redes de investidores-anjo, como a Anjos do Brasil e a FEA Angels.

Uma das práticas mais antigas de aporte de recursos em startups, o investimento-anjo tem um claro impacto positivo no sucesso de empresas que recebem esse tipo de injeção de capital, avaliou Daniel Graicer, responsável pela gestão de startups e parcerias da Anjos do Brasil.

“O investimento-anjo é a primeira validação de mercado se faz sentido o que a startup está fazendo e, muitas vezes, isso ajuda na tese dos fundos para justificar seus investimentos”, avaliou.

Atualmente, a Anjos do Brasil conta com uma rede de investidores composta por 550 membros, situados em todo o país, que já realizaram mais de 200 investimentos e avaliaram mais de 10 mil startups.

“As startups [candidatas ao investimento] precisam ter um MVP rodando, um protótipo validado, já ter registrado as primeiras vendas e ter começado a tracionar”, detalhou Graicer.

Já os 150 investidores que compõem a base da FEA Angels já investiram mais de R$ 5 milhões ao longo dos cinco anos de existência da rede, em 50 startups.

“Hoje temos mais de 80 associados ativos. Pensamos não só em aportar capital, mas também inteligência, relacionamento e conexão para potencializar o negócio das startups apoiadas”, disse Fernando Rolim, presidente da FEA Angels.

A FAPESP não será investidora tanto nas redes de investidores-anjo como nas plataformas de investimento participativo, sublinhou Tomás Bruginski, gerente de relações institucionais da FAPESP, durante o evento.

“Nesses dois casos, a FAPESP está fazendo um esforço para aproximar as empresas egressas ou com projetos vigentes no PIPE desses parceiros de forma institucional”, ponderou.

Caso empresas apoiadas pelo PIPE sejam bem-sucedidas na captação de investimentos organizada por esses agentes, no valor de no mínimo R$ 100 mil, elas poderão solicitar aporte suplementar à FAPESP por meio de projeto na modalidade PIPE Invest.

“Por meio do PIPE Invest, a FAPESP poderá aportar recursos suplementares em valor idêntico ao captado pela empresa no mercado, limitado a R$ 1,5 milhão”, explicou Patricia Tedeschi, gerente de inovação da FAPESP. Os recursos da FAPESP no PIPE Invest devem ser utilizados exclusivamente para pesquisa. Já os recursos do investimento privado podem ser usados a critério da empresa, contribuindo para o sucesso comercial dos resultados do projeto, sublinhou.

Novos fundos

Além da participação nos fundos Criatec 4 e Indicator 2 IoT, a FAPESP lançou chamada em setembro de 2023, convidando fundos de investimentos em participações (FIPs), do tipo capital-semente/multiestratégia, em fase de investimentos e que tenham foco em empresas de base científica e tecnológica, a apresentar propostas para eventual subscrição de cotas pela Fundação (leia mais em https://fapesp.br/16312).

A chamada procura consolidar uma nova fase de atuação da FAPESP no uso de fundos de investimento que possam suprir a necessidade de recursos das empresas já apoiadas pela Fundação com recursos não reembolsáveis.

Foram recebidas 12 propostas. Ao final do processo de seleção, a Comissão de Avaliação indicou a possibilidade de a Fundação firmar compromissos de investimento com os fundos KPTL Gov Tech Brasil FIP Capital Semente, proposto em conjunto pelas gestoras KPTL e Cedro, e Barn Greentech FIP Multiestratégia, da gestora Barn (leia mais em https://fapesp.br/pipe/260/).

“Esses dois fundos estão em tratativas com a FAPESP até que possam receber um compromisso de investimento da Fundação”, disse Bruginski.

“A obrigação dos fundos na fase de investimento é aportar recursos equivalentes aos que a FAPESP colocará em empresas egressas ou que estejam com PIPE em andamento”, explicou.

Desde 2013 a FAPESP também participa do Fundo Inovação Paulista (FIP), criado no mesmo ano em parceria com a Desenvolve São Paulo, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). A participação da FAPESP no fundo é de R$ 10 milhões, em patrimônio total de R$ 105 milhões, mas teve grande influência na carteira das empresas investidas – mais de 50% foram participantes ou são egressas do PIPE.

Originalmente publicado em FAPESP - Pesquisa para Inovação