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Foto de colaboradores da startup Mundo Recicladores e de participantes de um dos eventos de sustentabilidade ambiental que participam. Na imagem há duas pessoas segurando um saco plástico preto, que está pendurado em uma corda. Atrás, há pessoas, mesas e cadeiras, além de um fundo com escritos como "reutilze", "reduza". Fim da descrição.
Mundo Recicladores conecta, por meio de plataforma, consumidores, cooperativas/catadores e empresas para incentivar o descarte correto de resíduos

 

Texto: Edimarcio A. Monteiro - Correio Popular | Foto: Rodrigo Zanoto

A Mundo Recicladores, startup incubada na Agência de Inovação (Inova) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), busca envolver e fazer a ligação entre todos os agentes envolvidos com a reciclagem – consumidores, cooperativas/catadores e empresas. O objetivo é incentivar a logística reversa como parte da proposta de transformar esse material na principal fonte de matéria-prima do mundo. A Mundo Recicladores está em um processo de ampliação de suas ações, que conta com o lançamento de uma plataforma e umaplicativo para celulares. A ideia é promover o descarte correto dos resíduos, preservando o meio ambiente e a busca de soluções abrangendo toda a cadeia, para que haja o reaproveitamento das embalagens geradas pelas indústrias, incluindo alumínio, papel, papelão, plástico e vidro.

“Eles visam a garantir o cumprimento das metas de logística reversa. Na legislação ambiental, a indústria tem por obrigação, pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos, recolher 23% das embalagens que distribui. A nossa plataforma ajuda no crédito da logística reversa, conecta os operadores, que são os catadores e as cooperativas, com a indústria de embalagem”, explicou o advogado Eduardo Belluzzo, sócio da Mundo Recicladores.

Os coletores cadastram as notas fiscais de venda dos materiais, e as empresas compram esses créditos para comprovar a destinação correta das embalagens. Dessa forma, mostra que elas não foram descartadas irregularmente, poluindo o meio ambiente, e gera uma fonte de renda extra para as cooperativas e catadores. O aplicativo, que ainda será lançando, será a versão para celulares da plataforma eletrônica existente onde os participantes podem se cadastrar e rastrear desde a venda dos recicláveis até a geração dos créditos para as indústrias, um processo que beneficia toda a sociedade. Uma embalagem de plástico, por exemplo, demora 450 para se decompor no meio ambiente, enquanto o vidro leva 1 milhão de anos.

Benefícios para todos

A humanidade produz mais de 430 milhões de toneladas de plástico anualmente, dois terços dos quais são produtos de curta duração, ou seja, que rapidamente se tornam resíduos. Desse total, são reciclados apenas 9%, taxa que cai para 1,3% no Brasil, segundo estudo da organização não governamental (ONG) norte-americana Center for Climate Integrity. Cada uma tonelada de plástico reciclado evita o uso de 130 quilos de petróleo, matéria-prima não renovável, e gera economia de energia elétrica em todo o ciclo de produção.O material retirado das ruas e terrenos baldios evita ainda a poluição ambiental e contribui para reduzir os alagamentos e enchentes ao evitar o entupimento de bocas de lobo.

Todo esse processo compõe a logística reversa. Ela visa ao planejamento, implementação e controle do fluxo de materiais, produtos e informações, do ponto de consumo ao ponto de origem, para recuperar, reciclar ou descartar de forma ambientalmente adequada os resíduos sólidos gerados durante todo o ciclo de vida dos produtos.

A plataforma de comercialização de crédito de logística reversa da Mundo Recicladores foi lançada no início deste mês com o objetivo de integrar cooperativas, catadores e indústrias de todo o país. “Quando a cooperativa ou catador vende para a indústria de reciclagem, ela emite uma nota fiscal. Essa nota é a comprovação de logística reversa, comprova que determinada quantidade de material foi encaminhada para reciclagem”, explicou Eduardo Belluzzo. “A plataforma é um market place que identifica as notas de materiais vendidos e as indústrias que precisam comprovar a logística reversa. Ela comprova que determinada quantidade de material foi encaminhada para reciclagem”, acrescentou.

Outras ações 

Essa solução é uma segunda área de atuação da startup, que se prepara também para ampliar a utilização de sua primeira ação lançada em 2022, envolver e estimular os participantes de grande eventos a fazer a destinação correta do lixo reciclável gerado por meio da gamificação, aplicação de mecanismos e dinâmicas dos jogos em outros âmbitos para motivar e ensinar os usuários de forma lúdica. O público troca papel, plástico, papelão e latinhas de alumínio recolhidos por pontos que depois podem ser trocados por alimentos e bebidas durante o evento.

O trabalho começou com o Festival da Lua Cheia, evento musical multicultural. A terceira participação ocorreu entre 30 de maio e 2 de junho, na Fazenda Vale das Grutas, em Altinópolis, interior paulista, reunindo em torno de 10 mil pessoas para ver shows de 80 artistas, entre eles Criolo, Vanessa da Mata, Zé Ramalho, Arnaldo Antunes e Nando Reis.

O levantamento do resultado deste ano está sendo finalizado. Na primeira participação, o trabalho resultou na coleta de aproximadamente 14 toneladas de resíduos reciclados, com o envolvimento de cerca de 1 mil pessoas, geração de 130 empregos temporários e participação da cooperativa de recicladores local. De acordo com a Mundo Recicladores, o evento se transformou em um epicentro de educação e impacto ambiental positivo, resultando na compensação de cerca de 50 toneladas de carbono, tornando o festival uma experiência mais ecológica e responsável.

De acordo com Belluzzo, a startup negocia agora a participação em outros eventos, como um dos maiores encontros literários do país, e pretende usar o modelo para implantar projetos permanentes em cidades, regiões ou empresas. “É ummodelo de gamificação. Você troca o seu reciclável por brindes. A ideia é fomentar que o público participe do processo de reciclagem e também da preservação do espaço físico”, explicou o sócio da Mundo Recicladores. “É umpouco da cultura dos japoneses que impressionaram na Copa (do Mundo de futebol) no Brasil, quando limpavam tudo depois dos jogos. É recolher o seu lixo, leválo de volta.”

O Mundo dos Recicladores tem a participação de sócios com experiência profissional em áreas diversas. Além de Eduardo Belluzzo, conta com a bióloga Ana Oliveira, o publicitário Diego Ramos e a cientista da computação Helen Fornazier. É uma expertise diversificada voltada à construção de um mundo mais sustentável. Os pilares da startup estão na responsabilidade socioambiental, democratização de acessos, inclusão social, diversidade, transparência e ética, unindo tecnologia, inovação e sustentabilidade.

Entre o final de 2021 e o início de 2022, a startup manteve um Ponto de Coleta Voluntária (PEV) no Centro Esportivo Marta Paion, em Mococa (SP), onde um projeto de handebol envolve 300 crianças. Em uma parceria com o comércio local, foi criado um clube de desconto, com a troca de material reciclável por pontos. Eles puderam depois ser revertidos em cashback (recompensa) e cupons de descontos nas empresas parceiras, criando um círculo de sustentabilidade e inclusão. Em seis meses, foram recolhidas 7,5 toneladas de resíduos.

O Brasil é hoje um dos países que recicla materiais, mas ainda tem muito espaço para avançar. Dados de 2022 mostram que o país reciclou 4% dos quase 82 milhões de toneladas de resíduos geradas, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Segundo a entidade, metade das 5.570 cidades brasileiras não têm políticas de reciclagem e nem aterros sanitários. Segundo a Recicla Latas, organização responsável pelo aperfeiçoamento da logística reversa das latas de alumínio para bebidas do Brasil, a reciclagem dessas embalagens evitou a emissão de 15 milhões de toneladas de gases de efeito estufa nos últimos 10 anos.

🌐 Matéria originalmente publicada no site do Correio Popular.