Desempenho é relativo ao ano passado, que apresentou crescimento de 26% em comparação ao obtido em 2021; balanço é do Parque Científico e Tecnológico da universidade
Texto: Edimarcio A. Monteiro/Correio Popular | Foto: Pedro Amatuzzi-Inova Unicamp
O faturamento das 44 startups e empresas incubadas no Parque Científico e Tecnológico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) cresceu 26% em 2022 e atingiu R$ 68,8 milhões. Os dados constam do Relatório Anual do Parque, que este ano completa dez anos de atividades. O local funciona como um ecossistema de integração entre as indústrias e empreendedores de base tecnológica.
"Esse é um bom resultado porque ainda estamos nos recuperando dos efeitos na economia da época da pandemia de covid-19, com o mesmo número de empresas", comemora a diretora-executiva da Agência de Inovação da Unicamp, responsável pelo Parque, Ana Frattini. De acordo com ela, o objetivo da iniciativa é oferecer recursos e demonstrar aos estudantes que o empreendedorismo pode ser uma opção de carreira. Isso, acrescenta ela, amplia os horizontes de quem busca a graduação e a pós-graduação, além de manter no país novas tecnologias desenvolvidas no país. Outro reflexo positivo é a geração de novas oportunidades de trabalho. "Nós retemos os talentos no Brasil, evitamos que os cérebros vão para o exterior", destaca Ana. As empresas instaladas hoje no Parque geram hoje 685 postos de trabalho, muitos deles ocupados por alunos que encontram ali a oportunidade para desenvolver suas pesquisas.
DOUTORADO VIRA NOVO NEGÓCIO
Com graduação e mestrado em Química na Unicamp, Viviane Nogueira Hamanaka enxergou no doutorado em Engenharia Elétrica, feito em parte no Canadá, a oportunidade de criar a própria empresa. "Os professores e pesquisadores de lá demonstraram muito interesse na minha pesquisa. Quando retornei, depois de dois anos, vi nela a chance de criar a minha própria empresa", explica.
Foi assim, em sociedade com o marido Marcos Hamanaka, que nasceu uma fabricante de filmes finos nanométricos, que podem ser usados em fármacos, biomateriais, cosméticos, energia solar, alimentos e eletrônicos, além de outras aplicações. A partir de maio de 2020, o casal trabalhou no desenvolvimento de um novo equipamento, que até então existia apenas na bancada do laboratório. Em setembro passado, foi lançada no mercado nacional a versão comercial e final do produto, que atraiu a atenção de uma empresa alemã, que irá associá-lo a um equipamento próprio e comercializá-lo no mercado internacional.
A startup nasceu familiar e hoje emprega cinco pesquisadores oriundos de cursos da Unicamp. São bolsistas que desenvolvem ali seus projetos, com possibilidade de serem contratados. Para Viviane, o Parque Tecnológico tem papel fundamental no desenvolvimento da empresa. "Nós somos muito bons na nossa tecnologia, mas não entendíamos nada de negócios", lembra. A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp), responsável por capacitar os empreendedores, promove cursos e treinamentos sobre gestão empresarial, formação de preços e indicação para consultoria jurídica para celebração de contratos. Também orienta em relação ao estabelecimento de contato com potenciais empresas interessadas nos novos produtos, seja no Brasil ou no exterior.
Desde que iniciou as atividades em 2013, o Parque Tecnológico já graduou 65 empresas. O número não inclui negócios incubados que se instalam para integrarem o ecossistema, criados por estudantes de outras universidades. Entre elas está uma startup que atua com projetos de sustentabilidade ambiental para a indústria química, uma spin-off de uma empresa francesa, que escolheu a Unicamp para ser a porta de entrada no mercado latinoamericano.
De acordo com o fundador da empresa, José Flávio Benevides, que hoje é diretor de Desenvolvimento do grupo e responsável pelo projeto no Brasil, o Parque foi escolhido em função de a Unicamp ser uma referência internacional em pesquisa e desenvolvimento científico e por sua proximidade com Paulínia, o maior polo petroquímico da América Latina, onde estão potenciais clientes.
"É uma mão dupla. O Parque está inserido em um ecossistema onde as pesquisas são feitas e desenvolve essa mentalidade empreendedora entre o meio acadêmico", afirma Benevides. O papel da startup de prestação de serviços, criada em 2014, é identificar nos laboratórios os novos projetos na área de sustentabilidade e ajudá-los a se transformarem em um produto comercial. A empresa atua desde a criação de novas matérias-primas sustáveis até no desenvolvimento de processos industriais que busquem a redução da emissão de gás carbônico (CO2).
"As indústrias hoje buscam isso em função do aquecimento global. O futuro é uma indústria mais sustentável", diz Benevides. Formado em Engenharia de Processo pela Unicamp e com passagem por multinacional do ramo químico, Paulo Roberto Polastri se identificou com a startup pela possibilidade de encontrar novas tecnologias e produtos sustentáveis para a indústria. "É poder trabalhar no desenvolvimento de soluções diferentes das já existentes", explica ele, que atua com outros três profissionais também formados pela universidade.
EXPANSÃO
O Polo Científico e Tecnológico, hoje distribuído em seis prédios onde estão instaladas as empresas, se prepara para uma expansão para reforçar a Unicamp como principal instituição capacitada para apoiar diretamente esses negócios. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), agência pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação, aprovou a liberação de uma verba não reembolsável de R$ 14,77 milhões para a instalação da Vila de Startups na universidade, que dobrará a capacidade de receber empresas emergentes ou parceiras.
O novo espaço terá 3,59 mil metros quadrados e está em fase de desenvolvimento do projeto executivo. De acordo com a diretora do Inova, Ana Frattini, o objetivo é que as obras tenham início ainda este ano. O modelo de construção será baseado no conceito modular e sustentável, o que permitirá o aumento do espaço, de acordo com a demanda, ou a remodelagem da parte interna para as empresas que necessitarem de uma área mais ampla para trabalhar.
Mesmo com a implantação da vila, os atuais prédios ocupados pelo Parque serão mantidos. O objetivo da Inova é instalar a expansão na área do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS), que a Unicamp projeta para a área adquirida da antiga Fazenda Argentina. Esse será um espaço para o desenvolvimento de parcerias e cooperações com instituições e empresas para a implantação de novas unidades de pesquisa e produção que busquem o desenvolvimento de forma ampla, com impactos nos eixos social, econômico e ambiental.
Além da verba da Finep, a Vila de Startups receberá investimento de contrapartida da Unicamp de R$ 2 milhões para a criação de infraestrutura de informática e R$ 1,5 milhão ao longo de cinco anos em pessoal para gestão do local. O projeto prevê um conceito inovador ágil e ambientalmente sustentável. Ele é baseado em estruturas metálicas e modulares que permitirão a ampliação no futuro sem a necessidade de construção de um novo prédio. Além disso, evitará o uso de alvenaria, que gera muitos detritos.
A previsão é que a vila fique pronta em dois anos após o início das obras.
Além desse projeto, a Finep, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, aprovou mais R$ 15 milhões para outros dois projetos em Campinas, o Parque Tecnológico Municipal, da Informática dos Municípios Associados (IMA), e o CTI-Tec, ligado ao Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI). Esses três projetos fazem parte de um pacote de dez aprovados em 2022.
O Parque Tecnológico Municipal receberá R$ 9,5 milhões e o CTI-Tec, R$ 5,5 milhões. Os projetos de Campinas receberão 9,3% do total de R$ 320 milhões de recursos autorizados pela agência pública para o Fundo Verde e Amarelo, destinados a projetos de parques tecnológicos em todo o país.
Texto originalmente publicado em Correio Popular.