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Foto posada dos fundadores da Inovia, Tiago Carvalho e Fernanda Balieiro. Na imagem, eles encontram-se olhando para a câmera, sorrindo, e contam com um árvores verdes ao fundo. O homem está de braços cruzados e veste uma camiseta azul marinho. A mulher, por sua vez, tem cabelos compridos e veste uma camiseta preta. Fim da descrição.

Incubada da Incamp desenvolve aplicações baseadas em Inteligência Artificial e já captou recursos de fontes de fomentos que totalizam R$ 4,5 milhões

 

Texto: Roseli Andrion - Pesquisa para Inovação | Foto: Pedro Amatuzzi - Inova Unicamp

Vários processos de cuidado com a saúde passam pela avaliação de peso e de medidas corporais. Nesse contexto, é comum que um paciente acompanhado por médico, personal trainer, nutricionista e esteticista, entre outros, tenha essas dimensões avaliadas por todos eles, mas que não haja interação nem compartilhamento de informações entre esses profissionais.

E se houvesse uma solução em que todos os envolvidos, inclusive o paciente, pudessem verificar tanto os dados quanto a evolução ao longo do tempo? Essa é a proposta da startup Inovia Pesquisa Aplicada com a plataforma B-YOU, desenvolvida com apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP.

A ideia surgiu de uma necessidade de Fernanda Balieiro, CEO da empresa. “Ela estava fazendo alguns tratamentos estéticos e começou a procurar aplicativos em que fosse possível verificar o progresso, mas não encontrou nada”, diz ao Pesquisa para Inovação Tiago Carvalho, cofundador da startup.

O especialista em inteligência artificial com visão computacional conta que os registros das sessões eram feitos de forma desordenada e, às vezes, até acabavam perdidos. “A clínica não tinha uma ferramenta para fazer esses registros e compartilhar entre os profissionais e com os pacientes”, afirma. “Em geral, eles usavam formulários em papel e o responsável pela sessão tirava fotos com o próprio celular. Na sessão seguinte, se fosse outro profissional, ele tirava outras fotos, mas no celular pessoal dele. Para ter as imagens desde o início do tratamento, era preciso localizar quem fez os atendimentos. Assim, era comum perder as informações.”

Os pesquisadores notaram, ainda, que muitos desses serviços não fazem acompanhamento da evolução do paciente. “A pessoa faz uma sessão para reduzir medidas, por exemplo, mas não há nenhum controle prévio ou posterior da efetividade daquele procedimento.”

Outra dificuldade observada pela equipe foi a falta de padronização na obtenção das medidas, o que pode fazer que haja diferença nos dados colhidos de um mesmo paciente por diferentes profissionais. E, quando conversavam com quem atua no segmento, os relatos eram semelhantes. “Começamos, então, a pensar em uma forma de padronizar esse processo.”

Plataforma web

O primeiro conceito da B-YOU foi a criação de um aplicativo para que o próprio usuário tirasse as medidas. “Depois, concluímos que a solução ideal seria uma plataforma web para os profissionais do segmento”, explica. “Isso é um diferencial para ser oferecido ao cliente — e, depois, o próprio paciente passa a ter acesso a todos os dados. Um dos nutricionistas que entrevistamos atende muita gente fora do país e não consegue encontrar um parceiro para tirar as medidas em cada um desses locais, por exemplo. Para ele, a ferramenta seria bem útil.”

Em sua forma final, o sistema desenvolvido pela Inovia usa inteligência artificial para calcular medidas corporais a partir de fotos. A solução estima oito parâmetros e, para 80% dos usuários já testados, o erro é de menos de 5%. “Na medição manual, se for feita por pessoas diferentes, por exemplo, já há diferenças. Atualmente, estamos aperfeiçoando a tecnologia para tornar essa margem de erro ainda menor, bem como desenvolver outras funcionalidades — de acordo com as necessidades do mercado.”

Os dados obtidos, então, vão para a plataforma e o próprio usuário pode acompanhar a evolução. Além disso, ele pode apresentar as informações para os diferentes profissionais que o acompanham. “É como no open banking: o indivíduo é o dono dos dados dele, em vez de essas informações ficarem com uma clínica ou um profissional específico. Assim, ele pode compartilhá-los com quem quiser.”

A plataforma também vai agregar os questionários preparados pelos profissionais para compreender os hábitos dos pacientes. “Assim, fica tudo centralizado.” Carvalho destaca que a ferramenta tem um componente motivacional. “É uma forma de manter o engajamento do usuário. É muito gratificante ver a evolução nesses processos e, quando o paciente vê que está evoluindo, ele se motiva mais.”

O sistema já foi avaliado por 326 usuários em 445 situações. “Coletamos os feedbacks, estamos corrigindo a plataforma e vamos fazer uma segunda rodada de testes. Temos usuários beta que estão cientes de que o produto está em desenvolvimento e, a partir de outubro, queremos ter a plataforma estável para o lançamento.”

Outros mercados

Outro setor afetado por essas variações de medidas é o de pequenas lojas de venda de roupas on-line: se o cliente recebe uma peça no tamanho errado, a probabilidade de a venda se concretizar é muito baixa. “É comum que o cliente esteja interessado naquele item naquele momento específico. Se não ficar bom, ele devolve e desiste. Em uma loja pequena, com poucas unidades de um determinado tamanho, pode-se perder a venda por ter enviado o tamanho inadequado e não poder vender para alguém em quem a peça serviria.”

A solução é útil também para o segmento de saúde e segurança do trabalhador e a startup já tem uma parceria com uma empresa de prestação de serviço nessa área. “Eles oferecem ginástica laboral e fazem o acompanhamento dos participantes”, conta Carvalho. “Com a plataforma, se um ou mais deles fizer as sessões corretamente e, mesmo assim, tiver algum tipo de agravo, vai ser possível verificar se se trata realmente de uma doença ocupacional, por exemplo.”

Com esse cliente, a Inovia vai desenvolver um produto mínimo viável (MVP, acrônimo de produto minimamente viável) e, para isso, criou mais funcionalidades. “Uma delas permite avaliar a postura para detectar alterações — como uma escoliose, por exemplo.”

Ainda no segmento de saúde e segurança do trabalhador, o sistema pode ser útil para projetos de ergonomia — uma vez que o ambiente de trabalho é que deve ser adequado ao trabalhador, não o contrário. “Queremos facilitar o acompanhamento nos diferentes segmentos que têm relação com as medidas corporais individuais. Esse tipo de ferramenta facilita o trabalho do profissional.”

O público-alvo da plataforma são os microempreendedores e a expectativa é que o plano básico para assinantes tenha preço entre R$ 30 e R$ 50. “Queremos atingir o máximo de pessoas possível.” Carvalho diz que espera conquistar 5% do mercado potencial em cinco anos.

E a Inovia não para: paralelamente ao desenvolvimento da B-YOU, a startup foi uma das empresas selecionadas em um edital governamental para desenvolver um produto com visão computacional. “É um sistema que vai fazer a análise de imagens de raio X de produtos contidos em contêineres da Receita Federal do Brasil. Ao longo de dois anos, vamos receber R$ 4,2 milhões.”

🔗 Leia mais sobre a empresa: Tecnologias da Inovia com uso de IA recebem recursos da FAPESP e da Finep.
🌐 Matéria originalmente publicada no portal FAPESP Pesquisa para Inovação