search
Meteorologistas, geólogos e geógrafos atuam em paralelo à Engenharia na busca por medidas para minimizar os impactos das emergências climáticas nas cidades

 

Texto: Revista CREA | Foto: Pedro Amatuzzi - Inova Unicamp

Especialistas de diversas áreas se unem em busca de soluções para a evolução das zonas urbanas como espaços resilientes às emergências climáticas. A tentativa é de reverter a insegurança habitacional, pauta trabalhada também em parcerias do Crea-SP com instituições públicas*, diante de enxurradas que provocam enchentes e deslizamentos. Os alertas valem para todos pois, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 85% dos brasileiros viviam em centros urbanos em 2015. Fora o agravante da alta emissão de gases de efeito estufa (GEE) - foram 2,42 bilhões de toneladas de CO2e (dióxido de carbono equivalente, unidade que representa todos os GEEs somados) em 2021, de acordo com o Observatório do Clima.

A problemática deixou de ser isolada e distante, como antes fora tratada. “Os eventos climáticos extremos estão mais recorrentes. Por isso, o planejamento urbano, com medidas ligadas às mudanças climáticas, é necessário e urgente”, afirma a Geog. M.Sc Camila Bertaglia Carou, analista de Risco na REGEA Geologia, Engenharia e Estudos Ambientais.

O desafio técnico de obter resultados de prevenção e mitigação dos impactos da sobrecarga ambiental é da área tecnológica que, “com os recursos disponíveis, visa aumentar a resiliência dos centros urbanos às catástrofes de origem meteorológica”, explica o Prof. Dr. do Departamento de Meteorologia da Universidade de São Paulo (USP), Meteorol. Ricardo Hallak.

O Geol. Renan de Salles Flores Garcia Ferraz, inspetor do Conselho em Jacareí, está em atividade no Litoral Norte desde fevereiro. “Foi evidente a interação entre a topografia acidentada, as características geológicas do solo e as intensas chuvas, mas medidas preventivas estão sendo implementadas para reduzir riscos”.

“A aplicação inicial foi para as chamadas ZAS (Zonas de Autosalvamento), em que se considera não haver tempo suficiente para uma adequada intervenção dos serviços e agentes de proteção civil em caso de acidente, como rompimento” - Eduardo Neger, diretor de Engenharia da NEGER, empresa-filha da Unicamp.

O Geol. Diego Diez Garcia, inspetor em Ubatuba que também atua no local, completa dizendo que essa prevenção “é uma questão multidisciplinar. Não é a edificação, a encosta ou a previsão do tempo isoladamente”. A atenção à ocupação do solo pode ser uma das formas. “O Brasil possui um bom arcabouço legal”, conta a geógrafa Camila ao citar as leis federais 6.766/1979, chamada Lei Lehmann; 12.651/2012, que instituiu o Novo Código Florestal; 10.257/2001, reconhecida como Estatuto da Cidade; 13.465/2017, que dispõe sobre a regularização fundiária; e outras.

Essa base de regulamentações leva às ações de:

1. Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização que classificam áreas adequadas, com restrições e inadequadas à expansão urbana.

2. Implementação de sistemas de drenagem adequados.

3. Padrões de construção mais rigorosos.

“É importante que as autoridades e a população estejam preparadas, com planos de contingência e ações de educação e conscientização sobre os riscos geológicos”, acrescenta Renan. É o caso do SAFAR (Sistema de Alerta Fixo para Áreas Remotas), desenvolvido no Parque Tecnológico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) pela NEGER. O sistema possui uma tecnologia que, quando acionada, avisa sobre o risco de escorregamentos de terra por sinais sonoros e luminosos.

“O projeto derivou do cenário típico que encontramos em áreas remotas no entorno de barragens e usinas hidroelétricas: pouca confiabilidade nas redes de energia elétrica e de telecomunicações. A partir daí desenvolvemos soluções para garantir a operação em situações críticas de forma autônoma, sem depender de infraestrutura externa. A aplicação inicial foi para as chamadas ZAS (Zonas de Autosalvamento), em que se considera não haver tempo suficiente para uma adequada intervenção dos serviços e agentes de proteção civil em caso de acidente, como rompimento”, detalha o diretor de Engenharia da empresa, Eduardo Neger.

A solução evoluiu com a experiência adquirida em Brumadinho (MG), quando apoiou o Corpo de Bombeiros nas operações de resgate e pode evitar novas tragédias nas cidades.

 

Leia mais.