A criação de um ecossistema de startups no Estado de São Paulo está em discussão na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Nos dias 7 e 10 de abril, a Diretoria da Poli e o consultor Flavio Grynszpan, do Instituto i-CORPS Brasil, decidiram levar adiante uma proposta para fortalecer as statups que passam pelo treinamento i-CORPs, cuja metodologia oferece formação para empreendedores com o objetivo de incentivar a criação de startups a partir de pesquisas desenvolvidas em universidades.
A i-CORPs é uma metodologia criada por Steven Blank, professor de empreendedorismo de universidades como Stanford e Columbia, e que acabou tornando-se ferramenta de um programa do governo dos Estados Unidos para ampliar a competitividade da economia daquele país. No Brasil, a metodologia está sendo disseminada por Flavio Grynszpan, que criou o Instituto com essa finalidade. No ano passado, a Poli fez um projeto piloto para testar a metodologia com dez atartups.
“O resultado foi tão bom que, além de ampliar esse trabalho dentro da Escola, decidimos apoiar a construção de um ecossistema favorável às startups no Estado”, afirma o diretor da Poli, José Roberto Castilho Piqueira. “Nossa Escola sempre teve um papel importante na promoção do desenvolvimento tecnológico, do Estado de São Paulo e do País. Portanto, incentivar o desenvolvimento das startups é um passo natural e alinhado à nossa missão”, acrescenta.
Proposta – Dentro da Poli a ideia é começar, ainda em 2017, um treinamento específico para que docentes sejam formados como mentores; e outro, focado em pós-doutores com o objetivo de abrir-lhes as portas do empreendedorismo. Também está sendo viabilizada parceria com uma empresa para que professores e alunos identifiquem suas demandas e desenvolvam startups adequadas aos desafios da empresa.
Numa perspectiva mais ampla, entram as ações desenhadas na proposta do Instituto i-CORPs Brasil e que terão o apoio da Poli: criação de um programa para internacionalização de startups; certificação de startups com treinamento i-CORPS; organização de seminários setoriais que reúnam startups do mesmo segmento; congresso anual (ainda neste ano) com as startups participantes do treinamento; inserção de novos parceiros no ecossistema, como os fundos de venture capital; promoção de negócios entre as startups; e criação de um menu de serviços que os mentores podem oferecer além do que já fazem quando trabalham com as startups durante o treinamento.
Segundo Flavio Grynszpan, já participaram do treinamento empreendedores de 84 statups e 48 mentores, profissionais experientes do mercado que trabalham como conselheiros de negócios nas startups. Até o final deste ano, a expectativa é de que esse número chegue a 182 startups e 84 mentores. “Existe agora um número relevante de participantes do treinamento i-CORPs, o que justifica a formatação de um ecossistema no qual os empreendedores e seus mentores estejam inseridos e conectados”, afirma Grynszpan.
Metodologia – Na prática, a metodologia i-CORPs possibilita que os empreendedores saibam de antemão se a ideia de seu negócio é viável ou não. Seria um estágio anterior ao plano de negócios. “Tratar uma startup como empresa é como tratar uma criança como adulto pequeno”, compara Grynszpan. O objetivo do i-CORPS, portanto, é aumentar as chances de uma startup crescer e se transformar em uma empresa. “Essa metodologia permite limitar o tempo e o investimento ao mínimo necessário antes de se decidir por continuar ou abandonar o negócio”, explica.
O treinamento começa com alunos e docentes fazendo um desenho inicial do que pensam que é seu negócio. Esse desenho é feito em Canvas, uma ferramenta digital usada para gerenciamento e planejamento estratégico. Ao longo do treinamento, recebem orientações sobre como agregar informações para validar o negócio, adequá-lo ou mesmo descartar a ideia. Todo o processo é acompanhado por mentores.
Parte essencial do treinamento, que traz informações estratégicas necessárias para saber se o negócio tem mercado ou não, é voltada para entrevistas com o mercado. “O objetivo dessas entrevistas é checar se a tecnologia, produto ou serviço proposto resolve os possíveis problemas ou atende as demandas de seus clientes potenciais, se gera valor para eles e se o investimento no negócio vai realmente compensar para o empreendedor e possíveis investidores”, conta Grynszpan.
No final, os participantes fazem um balanço de suas jornadas, comparando o Canvas inicialmente desenhado com as mudanças promovidas. O I-CORPs prevê ainda uma segunda etapa do treinamento, quando são trabalhadas estratégias para conseguir clientes e mantê-los o maior tempo possível, e também para definir os valores que podem ser cobrados dos clientes, de forma a remunerar o investimento feito na startup.